Espetáculo "Os Vencedores" encerra a premiada "Trilogia da Fuga"

A peça foca em uma família atravessada por enormes conflitos sociais 

Foto: Victor Otsuka

Fazer graça da própria tragédia é uma das virtudes que sintetizam a experiência de um cidadão médio brasileiro. Foi neste terreno fértil de contradições que se inspiraram Leonardo Cortez e Pedro Granato na idealização e realização dos espetáculos "Pousada Refúgio" (2019), "Veraneio" (2023) e "Os Vencedores", que estreia em 31 de outubro no Sesc Ipiranga, em São Paulo, encerrando a "Trilogia da Fuga". A temporada se estende até 14 de dezembro em sessões realizadas às sextas e sábados às 20h e domingos e feriados às 18h.

A comédia dramática escrita por Leonardo Cortez, dirigida por Pedro Granato e produzida por Jessica Rodrigues, encena o convívio familiar em uma casa de classe baixa, que é o único cenário onde a ação acontece de maneira desenfreada. O elenco é formado por Gabriel Santana (Bernardo), Glaucia Libertini (Rivânia), Lena Roque (Maria Rita), Leonardo Cortez (Fernando) e Luciano Chirolli (Francisco).

 

Os personagens Maria Rita e Francisco planejaram um jantar em comemoração aos seus 20 anos de casamento. O encontro não acontece como o esperado, pois o marido volta do trabalho na companhia do patrão, que está completamente alcoolizado e transtornado em função de um iminente divórcio. Essa aparição inesperada transforma a noite romântica em um festival de conflitos e verdades reveladas, num perigoso jogo de interesses.

 

Na trama, assim como em muitos lares reais, os sacrifícios do casal resultaram numa boa vida para os filhos gêmeos de 23 anos, Juliana e Bernardo, que tentam, por sua vez, ganhar a vida equilibrando seus propósitos pessoais com a necessidade de sobrevivência financeira. A matriarca é vendedora de cosméticos e dona de casa exaurida pelos acúmulos típicos do seu papel social. O pai é motorista particular de Fernando, um patrão explorador. No momento que antecede o conflito, Maria Rita conversa com Rivânia, sua prima quase irmã, até que Francisco chega na companhia indesejada do patrão.

 

O embate é potencializado a partir das crises existenciais de personagens oprimidos pelo seu estilo de vida e pelas frustrações decorrentes dos sonhos abortados, escancarando-se nesse encontro de tensão irrefreável, os desejos, questionamentos, angústias e evidentes derrotas de personagens que, ironicamente, se consideram vencedores.

 

É na temática, na provocação, nas relações e na linguagem propostas que os três espetáculos se unificam e dialogam. As histórias, embora diferentes entre si, tocam sempre no humor e na dor presentes nos conflitos da atualidade. "As três dramaturgias propõem um corajoso mergulho no terror da vida social, em comédias paradoxalmente amparadas na tristeza, onde a agonia do cotidiano é perpassada por desejos reprimidos, sonhos irrealizáveis, conflitos inevitáveis e explosões decorrentes do seguido acúmulo de frustrações. Nessa Trilogia da Fuga, concebida por mim e Pedro Granato, a quase totalidade dos personagens busca de maneira errática e compreensivelmente humana o escape das suas realidades oprimidas", fundamenta o dramaturgo Leonardo Cortez.

 

A escrita dos textos revela o reconhecimento das próprias aflições do autor diante da observação da vida cotidiana e das vivências como artista. A partir dos questionamentos do diretor, a parceria com Pedro Granato trouxe à dramaturgia mais elementos histórico-sociais, buscando a afinidade e reconhecimento do público. "Eu propus que ele buscasse influências mais realistas, conflitos em que nos víssemos representados como geração", explica o Diretor. Assim, foi a partir do sucesso de Pousada Refúgio que estabeleceu-se a proposta de uma trilogia."

 

Histórico da trilogia

"Pousada Refúgio" retrata um descontentamento geral da classe média brasileira com a realidade do país e o desejo de abandonar tudo para viver mais perto da natureza. O espetáculo levou o Prêmio APCA de Melhor Ator, na interpretação de Maurício de Barros, e recebeu outras indicações também do Prêmio Shell e Aplauso Brasil.  Em "Veraneio", a trama gira em torno da relação de dona Laura e seus três filhos, que se reúnem para celebrar o aniversário da matriarca em uma casa de praia e se deparam com os desdobramentos tragicômicos dos seus ressentimentos familiares, incorporando à história elementos super contemporâneos das experiências sócio coletivas provocadas pela pandemia de Covid-19. Este espetáculo venceu o Prêmio Bibi Ferreira na categoria Melhor Atriz, vivida por Clarisse Abujamra, e foi ainda mais celebrado com indicações em outras premiações importantes, figurando inclusive entre os 10 melhores espetáculos de 2023 na lista do Estadão.

 

Enquanto espelho social, "Os Vencedores", pretende retratar, segundo o diretor, o discurso da prosperidade nas periferias, o complexo de vira-lata e o servilismo que está implícito na formação nacional por trás da máscara de cordialidade. "Vamos trazer músicas, roupas e comentários que estão hoje em conflito em nossa sociedade para o palco como forma de refletir de forma quente sobre nossos tempos. A trilha sonora de Dani Nega vai trazer músicas que tocam na casa das pessoas, mas nunca tocam em um espaço cultural 'prestigiado' por conta de nossos elitismos disfarçados".

 

Encenando Francisco, o ator Luciano Chirolli quer escancarar o preconceito. "O Brasil me mostra cada dia mais homens reacionários, abusivos e preconceituosos. Quero denunciar todos eles com uma performance repugnante. Quem se identificar vai ficar surpreso a cada instante com o rumo dessa estória que resolvemos contar", afirma.

 

"Queremos olhar para essa ideologia da prosperidade, esse sentimento de que as pessoas pobres vão superar todas as adversidades por meio do sacrifício, de se submeter ao patrão. É essa lógica que faz a multiplicação do pobre de direita", completa Granato.

 

No fim das contas, as dramaturgias trazem à tona comportamentos sociais que de alguma maneira denunciam a fuga de si, reflete Leonardo Cortez: "O espetáculo retrata a prisão, a opressão e a angústia, mas o objetivo é a libertação, construída a partir da constatação de que penetrar no terreno pantanoso das grandes dificuldades humanas é o primeiro e inevitável passo para a construção de uma nova realidade regida pelo senso de comunidade, cooperação e amor, clareza que somente a arte pode oferecer. Ao propor o contato íntimo, cômico e incômodo com o patético e com o terror, reside a minha esperança de que Os Vencedores aponte para um complexo, porém possível, caminho de redenção."

 

Sinopse

Na noite de comemoração do aniversário de casamento, um casal se vê obrigado a socorrer o patrão do marido absolutamente embriagado.

 

Ficha Técnica:

Idealização: Leonardo Cortez e Pedro Granato

Texto: Leonardo Cortez

Direção artística: Pedro Granato

Elenco: Gabriel Santana, Glaucia Libertini, Lena Roque, Leonardo Cortez, Luciano Chirolli

Participação em voz: Jade Mascarenhas

 

Cenografia: Diego Dac

Adereços: Xapari Ateliê Artístico

Iluminação: Beto de Faria

Figurino: Thays Heleno

Direção Musical: Dani Nega

 

Assistentes de direção: Diego Dac e Jade Mascarenhas

Assistente de figurino: Mariana Corrêa

Assistente de cenografia: Luana Miyamoto

Cenotécnico: Roberto Tomasim

Diretor de Palco: Diego Dac

Técnico de Luz: Beto de Faria

 

Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes

Fotos de divulgação: Victor Otsuka

Logomarca: Gabriel dos Santos Barbosa

 

Produção: Rodri Produções e Pequeno Ato

Direção de Produção: Jessica Rodrigues e Carolina Henriques

Produção executiva: Carolina Henriques

Assistente de produção: Julia Terron

Assistente administrativo: Victor Khaos

 

Serviço:

Espetáculo Os Vencedores – Estreia dia 31 de outubro de 2025 no Sesc Ipiranga.

Temporada: 31 de outubro a 14 de dezembro de 2025. Sextas e sábados às 20h; domingos e feriados  às 18h. 

Ingressos: R$ 60 (inteira)/ R$ 30 (meia)/ R$ 18 (credencial plena).

Sessão com intérprete de Libras 21/11.

Duração: 90 minutos.

Classificação: 16 anos.

SESC IPIRANGA – Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga

Horário de Funcionamento: Terça a sexta, das 7h às 21h30; aos sábados, das 10h às 20h ; domingos e feriados, das 10h às 18h30. 

 

Informações: (11) 3340-2035.

Vendas pelo site sescsp.org.br/ipiranga., no aplicativo Credencial SescSP e nas unidades do Sesc .