OLIMPÍADAS 2024: RIO SENA, CHUVA, CÉLINE DION E LADY GAGA

A abertura das Olimpíadas 2024 trouxe o que há de melhor na França
Por: Mateus Buzzo

Rio Sena com as cores da bandeira francesa / Foto: Matthias Schrader-AP


Os jogos da XXXIII Olimpíadas começaram nesta sexta-feira (26) em Paris e a abertura foi de tirar o fôlego. A começar, fugiu do padrão de ser apresentada no estádio olímpico da cidade sede. O comitê francês ousou e levou a abertura para o Rio Sena, ao ar livre, para cerca de 300 mil pessoas. Os 205 comitês de cada nação participante passaram em 85 barcos ao longo do maior rio da França e desfilaram por 6km até a Torre Eiffel.

Antes de tudo começar, as linhas de transporte público de Paris foram sabotadas e os aeroportos Charles De Gaulle e Orly estavam congestionados o que causou inúmeros cancelamentos e atrasos impedindo muita gente de chegar à capital e perder a cerimônia. 

Mesmo assim, a cerimônia começou com o Stade de France, o maior estádio de Paris, vazio e Zinédine Zidane trazendo a tocha olímpica. Após a apresentação do presidente da França, Emanuel Macron, e do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, um tipo de explosão com as cores da bandeira francesa surgiu no rio Sena.

Cerca de 250 artistas estavam presentes, entre eles Lady Gaga, que ficou responsável pela primeira apresentação artística e entrou rodeada de dançarinos num show ao melhor estilo Moulin Rouge. Por cerca de cinco minutos, a americana simulou seu show “Jazz & Piano” que fez em Las Vegas e nós noticiamos aqui.

Lady Gaga / Foto: Cláudio Buzzo


O Brasil esteve presente e a delegação do nosso país teve a presença de Isaias Queiroz e Rachel Kochhann com a bandeira verde e amarela. Devido ao seu tamanho, a delegação brasileira não dividiu a embarcação com nenhuma outra delegação. 

Entre os presentes da cultura francesa estavam o Ratatouille, o amado ratinho cozinheiro da Disney, O Fantasma da Ópera, dançarinas de cancan, a Revolução Francesa, Paris Fashion Week e protestos políticos, quando a delegação da Argélia jogou rosas no Rio Sena simulando os mártires assassinados pela polícia francesa e jogados no mesmo rio em 1961 na luta de independência do país africano. Além disso, protestantes vaiaram a delegação de Israel quando os atletas passaram no Sena. Também vimos Os Minions, personagens do filme "Meu Malvado Favorito", furtando a Monalisa de dentro do Museu do Louvre. Maria Antonieta, a última rainha da França, também se fez presente, só que decapitada, assim como ela morreu. Isso chamou a atenção de alguns representantes de delegações que são monarquias, como o Rei Filipe 6º e sua consorte Letizia, da Espanha.

Delegação brasileira / Foto: Patrícia de Melo Moreira


Aya Nakamura, natural do Mali, também cantou na abertura. O ponto alto de sua apresentação foi a música "Djadja", que embora não tenha sido seu primeiro trabalho, é o mais famoso devido à presença na Copa do Mundo da Rússia. A performance de Nakamura foi bem divulgada na França; ela é, atualmente, uma das cantoras mais famosas no país e a cantora francesa com mais streamings no mundo, mas foi alvo de ataques racistas no começo do ano quando as especulações de que estaria na abertura das Olimpíadas começaram a surgir. O dirigente Éric Zemmour, filiado ao partido Reconquête, um partido de extrema-direita que detém 4 assentos no Parlamento Francês, disse que Aya não é francófona porque ele não entende o que ela fala. Como dito, Aya é do Mali, um país na África Ocidental que foi colônia francesa desde meados de 1880 até 1960 e hoje figura entre os cinco países mais miseráveis do mundo. Já o grupo, também de extrema-direita, Les Natifs, publicou em suas redes sociais: "Não tem como, Aya. Isso é Paris, não o mercado de Bamako", se referindo à capital do Mali e a cidade de nascimento da cantora. O caso foi tão grave, que o nome de Aya Nakamura foi parar no Senado Francês. Numa entrevista, a cantora disse que virou "questão estatal número 1 e é isso que me magoa", mas se defendeu dizendo que não devia nada à essas pessoas.

Aya Nakamura / Foto: Reprodução


Óperas francesas, a culinária francesa e importantes mulheres francesas também estavam presentes na cerimônia e foram retratados durante o dia. Essas mulheres foram lembradas e trazidas como estátuas douradas para a celebração. Algumas delas foram abolicionistas, políticas e até militares. As estátuas ficarão em Paris. 

A chuva que estava caindo na cidade da luz acabou por prejudicar pontos da cerimônia, como a presença de capas de chuva nas delegações - e plateia - e a ausência de chefes de estado e parte da imprensa. A chuva, aliás, foi responsável pelo retorno da delegação brasileira à Vila Olímpica, decisão feita pelo Comitê Olímpico Brasileiro para que os atletas não adoecessem durante o torneio. 

Torre Eiffel durante a chuva / Foto: Cláudio Buzzo


Já no final, quando a pira seria acendida, o Trocadéro estava com menos pessoas do que deveria ter. Além disso, a bandeira olímpica foi hasteada de ponta cabeça. Outra gafe cometida, que será enviada para cortes governamentais, foi o anúncio da delegação da Coreia do Sul como Coreia do Norte. Ambos países são rivais desde o fim da Guerra da Coreia, que terminou em 1953, e nenhum deles chegou a um acordo internacional e continuam divididos até hoje.  

Zidane, Serena Williams, Rafael Nadal, Carl Lewis, Nadia Comaneci, Amelie Mauresmo e Tony Parker tiveram a honra de carregar a chama olímpica para Marie-José Perec e Teddy Riner, que acenderam a pira olímpica num balão. O balão também representou a França, já que o veículo é uma invenção francesa. 

Para fechar com chave de ouro, Céline Dion cantou "L'hymne A L'amour", de Édith Piaf, na Torre Eiffel acompanhada apenas de um piano e sua poderosa voz. Em 2022, a canadense, que nasceu na província do Quebéc, foi diagnosticada com a síndrome da pessoa rígida. No documentário sobre sua vida, que foi noticiado aqui, Céline mostra cenas de quando ela teve espasmos tão fortes que seriam capazes de quebrar sua costela. Isso a afastou dos palcos e a fez cancelar toda sua turnê em 2022 e 2023. No mesmo filme, Céline disse que voltaria aos palcos nem que fosse sentada ou engatinhando. Mas ela voltou em pé, assim como o mundo ficou ao aplaudi-la.

Céline Dion / Foto: Mateus Buzzo


A pira olímpica ficará acesa, no balão, no Jardin de Tuileries até o dia 11 de agosto, quando encerram os jogos olímpicos. 

Entre gafes e inovação, o que ficou da abertura das Olímpiadas Paris 2024 foi o que a França tem de melhor à oferecer: amor, tolerância, humor, cultura, música... e superação!



Torre Eiffel durante show de Céline Dion / Foto: Reprodução





Pira olímpica num balão no Jardin de Tuileries / Foto: Reprodução