No dia da Consciência Negra, Samuel de Assis leva "E Vocês, Quem São?" à São Paulo

Monólogo confronta o racismo estrutural no Brasil

Foto: Agência BR News


O monólogo “E Vocês, Quem São?”, estrelado e dirigido por Samuel de Assis, realizou em São Paulo uma sessão única no Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, no Teatro Porto, e transformou a data em um momento de reflexão coletiva. Com cerca de 75 minutos de duração, o solo apresentou uma releitura incisiva da história brasileira e provocou o público a encarar, sem defesas, as cicatrizes e violências estruturais que moldam o país.

O texto, assinado por Jonathan Raymundo, sustentou um discurso direto, construído para fermentar dúvidas e deslocamentos. O personagem criado por Samuel não se limitou a denunciar injustiças; ele confrontou a plateia e a convocou a se responsabilizar pela forma como reproduz narrativas e comportamentos que sustentam desigualdades raciais. A reação do público deixou evidente que o impacto emocional era parte fundamental do projeto artístico.

A montagem se apoiou numa cenografia minimalista, marcada por símbolos de pulsação e vulnerabilidade, enquanto a trilha sonora executada ao vivo trouxe força ritualística à apresentação. A presença dos músicos ampliou a atmosfera de ancestralidade e criou momentos em que palavra, corpo e som se entrelaçaram como um único gesto de resistência. O resultado foi um ambiente de tensão sensível, no qual a plateia parecia ser convidada não apenas a assistir, mas a participar do enfrentamento proposto pelo monólogo.

O solo, que já havia conquistado prêmios importantes no Prêmio FITA 2025, reafirmou em São Paulo sua potência política e artística. A recepção calorosa e as discussões que se seguiram ao espetáculo mostraram que o trabalho ultrapassa o formato de uma apresentação e se aproxima de um manifesto cênico. Ao realizar a sessão justamente em 20 de novembro, a equipe transformou a efeméride em ocasião de escuta e responsabilização, sublinhando a urgência do debate sobre consciência racial no Brasil.

A presença de Samuel de Assis no palco também dialogou com sua crescente visibilidade na televisão, ampliando o alcance da discussão para públicos que talvez ainda não tivessem tido contato com o discurso mais contundente do monólogo. Essa circulação entre meios reforçou a dimensão pedagógica da obra, que segue repercutindo nas redes e nas conversas do público presente.

“E Vocês, Quem São?” deixou São Paulo não apenas com aplausos, mas com a sensação de que o espetáculo cumpriu seu papel: tensionar, deslocar e provocar perguntas difíceis. A sessão única no Teatro Porto reafirmou o solo como um dos trabalhos mais relevantes do teatro contemporâneo brasileiro, capaz de transformar a data de 20 de novembro em uma experiência de memória, confronto e afirmação.