Urias lançará álbum "Carranca" em 07 de outubro
Novo álbum da artista abre os caminhos para uma fase mais madura e consciente de si mesma
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Arte: Isaac Sales |
CARRANCA é uma figura grotesca, geralmente esculpida em madeira, com feições humanas ou animalescas, utilizada como ornamento ou proteção em embarcações, construções ou portões. Usada para afastar maus espíritos, a carranca também tem simbologia nas religiões de matriz africana e está ligada a Exu, orixá considerado a espinha dorsal das civilizações da África negra, o mensageiro entre o mundo material e o espiritual, associado à dinâmica dos movimentos e à criação de possibilidades. CARRANCA dá nome ao novo álbum da cantora e compositora Urias, iniciando uma nova fase de sua carreira, com composições cheias de representações e significados religiosos, de resistência e de brasilidade.
A capa do álbum digital foi criada pelo artista plástico Isaac de Souza Sales (São Paulo, 2001). Isaac começou a desenvolver sua prática artística através da dança, desdobrando, então, sua pesquisa para a pintura e o desenho. A base de sua investigação está no Afro-surrealismo, absorvendo desta forma a pluralidade da diáspora africana. Conhecendo através da prática, seus dogmas e formas de manifestações da cultura preta como a música, cinema, literatura e da história oral. O artista procura na ancestralidade respostas para os questionamentos sobre o futuro, buscando em deuses antigos novos rostos, criando, assim, novas referências, utópicas e distópicas e trazendo soluções para o hoje.
A obra é composta por 14 músicas, incluindo três interlúdios, na voz de Marcinha do Corintho, que guiam os ouvintes nessa embarcação e falam sobre liberdade, revolta e a potência do amor. Na introdução, a narrativa fala sobre uma liberdade que foi vendida, mas na verdade é uma liberdade falsa. Há uma metáfora na frase: "a liberdade está dentro de uma casa na qual eu não posso entrar, um lugar ao qual eu não tenho acesso."
Foto: Divulgação |
No segundo interlúdio, o tema se desenvolve e se aprofunda na ideia da vingança como caminho possível para essa liberdade, é o momento da raiva, de revoltar. O ato de encerramento costura toda a história. Ele apresenta o caminho de volta para a Etiópia, fazendo uma conclusão simbólica para tudo o que foi discutido ao longo do álbum. Um retorno à origem, à Mãe Terra, ao lugar onde a liberdade é plena e verdadeira.
"Esses interlúdios se conectam diretamente com o tema central do disco. Eles funcionam como pontos de respiração e reflexão, mas também como guias para entender a narrativa maior da obra", explica Urias.
Toda a riqueza musical do projeto, que está detalhada faixa a faixa abaixo, vem somada aos visuais da diretora criativa Ode, seguindo uma narrativa afro-surrealista que permeia diferentes épocas e lugares, fazendo alusões tanto a corpos terrenos, como Josephine Baker e Sarah 'Saartjie' Baartman, quanto a orixás e deuses como Oxalá, Iemanjá, Iansã, Hórus e Ptah. "Eu chamo isso de transcorporeidade", conta Ode. "O filme é um exemplo de como trabalhar com materiais culturais sobre deuses e ancestrais também pode reproduzi-los de forma significativa, e que a autorrepresentação pode ser um caminho para a libertação das noções eurocêntricas e ocidentais de identidade."
Das 14 músicas, o disco conta com quatro feats, dos quais participam: Criolo (Deus), Giovani Cidreira (Herança), Major RD (Voz Do Brasil) e Don L (Paciência).